Violência doméstica. Ora aqui está um assunto que mexe comigo de uma forma inexplicavelmente revoltante.
Um dia, era eu miúda, talvez com 10 ou 11 anos e estava a brincar num jardim ao pé da casa dos meus pais. Quem conhece o jardim sabe que existem bancos de pedra que servem determinados objectivos. Há o banco da batota, o banco dos namorados e é só inventar nomes para o efeito, porque os bancos estão lá. Mas foi num destes bancos dos namorados que eu assisti a uma cena que ainda hoje de vez em quando me vem à memória, quando por lá passo. Estava um casal de namorados a fazer aquilo que os namorados normalmente fazem, quando de repente se ouve uma gritaria daquelas que acordam a vizinhança e arredores. O rapaz começa a bater na rapariga e a chamar-lhe p*** e mentirosa e a ela a rir e a dizer para ele se acalmar que em casa logo falavam. Lembro-me de o meu pai dizer que ia chamar a polícia e da rapariga dizer que não era preciso, que sabia lidar com ele, que aquilo lhe passava, etc.
Não percebi o que se passou na altura, percebi-o mais tarde. Alguma promessa de namoro não cumprida e lá vai disto. Mas o que me faz confusão é como é que se tem vergonha de uma situação destas e não se denuncia?? Como é que se vive com a imagem de violência no dia a dia e ainda se acha que a culpa é nossa??
A minha avó que vivia no Alentejo tinha uma vizinha que levava porrada, mas daquela à séria, do marido. Mas ele coitadinho, era muito bonzinho. A bebida é que lhe fazia mal!! Quando ele não bebia, até nem lhe batia. E a conversa dela para a minha avó era a seguinte: "Olhe vizinha Bia, sabe de uma coisa?? Quando ele me chama nomes ainda é menos mal, pelo menos não me bate! Olhe, e quando me bate, é porque alguma eu lhe fiz. Porque o meu homem é bom, as companhias com que ele anda é que são más!!"
É pá, desculpem mas não entendo, mas é que não consigo entender...
Entretanto, lembro-me uma vez da minha avó atirar com uma tigela de cereais ao meu avô porque ele lhe chamou esbanjadora. Ela ficou a rir, ele foi embora a rir e eu desatei a chorar. A minha avó disse para eu não me preocupar porque aquilo era amor. Era?? Se calhar sim. Por acaso dou por mim a imaginar, em certas alturas, a atirar com uma tigela de qualquer coisa ao meu Riot. Tipo seitan ou tofu. Mas não me estou a ver a rir depois a limpar aquela trampa toda.
É pá porra, é que não entendo. Violência não entendo. Nem passiva, nem activa, nem de espécie nenhuma.
Beijitos doces
2 comentários:
Eu conheço um caso de uma mãe (não é a minha!) que depois de ser psicológicamente massacrada durante uns tempos, atirou com uma faca a um pai (não é o meu!) - felizmente, a mãe falhou o alvo - que ficou branco como a cal das paredes, calou o bico e andou manso por uns tempos. Escusado será dizer que está história acabou em divórcio.
Até eu não entendo.
E até acho melhor nem tentar perceber.
Beijos.
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